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sábado, 27 de agosto de 2022

Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol marca início de novo momento
CBF recebe evento inédito nesta quarta-feira (24) para debater racismo e luta contra o preconceito no futebol e na sociedade.

CBF Combate Racismo Violencia no Futebol Foto Lucas Figueiredo CBF
Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol.
Colaboração de texto: Assessoria CBF
Colaboração de foto: Lucas Figueiredo/CBF
 
O futebol brasileiro viveu um dia histórico nesta quarta-feira (24). Na sede da entidade, no Rio de Janeiro (RJ), a CBF realizou a primeira edição do Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol, evento inédito para fomentar o debate e marcar um novo momento na batalha contra o preconceito no futebol brasileiro.
 
O Seminário foi aberto por Gilberto Gil, convidado de honra da CBF. Lenda da música brasileira, fã de futebol e uma das principais lideranças da cultura negra no país, o baiano citou o "dever cívico" que o esporte tem na luta contra o racismo e na transformação da sociedade. "(Saúdo) A todos que estão aqui presentes para se unirem a essa iniciativa extraordinária e necessária. É um dever cívico. As tarefas que nos trazem aqui são mais do que conhecidas. As grandes diferenças que temos hoje no aspecto mundial em relação aos temais raciais, sociais... O que nos traz aqui é exatamente esse compromisso", afirmou Gilberto.

Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no FutebolGilberto Gil foi o primeiro a falar no Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol
Créditos: Lucas Figueiredo/CBF

Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no FutebolEdnaldo Rodrigues apresentou proposta de punições desportivas em casos de racismo
Créditos: Lucas Figueiredo/CBF

O cantor foi seguido por Ednaldo Rodrigues, Presidente da CBF e idealizador do evento. Primeiro negro a ocupar o cargo mais alto na gestão do futebol brasileiro, Ednaldo reforçou que o intuito do Seminário é mostrar que não há espaço para o racismo no futebol e na sociedade.

"Fiz questão de realizar esse evento aqui na sede da CBF para mostrar ao mundo do futebol e aos preconceituosos que ainda frequentam os estádios do país e do mundo que estamos lutando para bani-los. Sabemos que a realidade é dura. Mas estamos aqui para mudar", disse o Presidente da CBF.

O dirigente apresentou uma ideia que pretende levar adiante: a punição desportiva pelos casos de racismo. Ednaldo Rodrigues afirmou que levará ao próximo Conselho Técnico do Brasileirão Assaí, em 2023, a proposta de perda de pontos por episódios de racismo durante a disputa do campeonato.

"Acredito que somente com a pena desportiva sendo imposta diretamente ao clube o racismo e o preconceito deixarão o futebol. Não há mais espaço para racista no século XXI", explicou.

CONFIRA: Ednaldo Rodrigues abre Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol: 'Estamos aqui para mudar'

A abertura do evento também contou com a participação do Presidente da CONMEBOL, Alejandro Domínguez, e do Presidente da FIFA, Gianni Infantino. Domínguez esteve presente no evento, no Rio de Janeiro, e fez um breve discurso sobre a importância de ter CBF e CONMEBOL lado a lado na luta contra o preconceito. Infantino, por sua vez, não pôde comparecer, mas enviou mensagem por vídeo para reforçar o apoio institucional da FIFA ao evento e à iniciativa da CBF de ter ações mais concretas contra o racismo.

"O fato deste seminário estar acontecendo é um sinal encorajador. Da mesma maneira, aplaudo a decisão de trazer palestrantes da Europa e também do Brasil, para que se possa aprender com as experiências de outras regiões do mundo. A CONMEBOL agiu corretamente ao introduzir multas mais severas. Mas agora devemos procurar soluções mais abrangentes. E a FIFA está aqui para oferecer todo seu apoio", declarou Gianni Infantino.

A abertura institucional do evento seguiu com as participações do Presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), Mizael Conrado, e com o Presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco. O parlamentar teve destacado, por Ednaldo Rodrigues, seu papel na representação legislativa da luta antirracista. Medalhista de ouro no Futebol de 5 nos Jogos Olímpicos de Atenas 2004 e Pequim 2008, Mizael pontuou o papel que a CBF desempenha ao realizar um evento como o Seminário.

"A CBF dá um passo importante ao demonstrar que compreende a importância desse tema para a nossa sociedade, demonstrando que não está alheia ao que os jovens sofrem diariamente nas ruas", afirmou.

Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol

Alejandro Domínguez reforçou apoio da CONMEBOL à CBF na luta antirracista
Créditos: Lucas Figueiredo/CBF

Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no FutebolPresidente do Senado, Rodrigo Pacheco representou o poder legislativo no Seminário
Créditos: Lucas Figueiredo/CBF

Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol


Após a apresentação da abertura do Seminário, Marcelo Carvalho e Onã Rudá subiram ao palco do auditório da CBF, para demonstrar os números do Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol 2021. A pesquisa, organizada pelo Observatório da Discriminação Racial no Futebol, aponta que o registro de casos de racismo em 2022 já igualou a quantidade acumulada em todo o ano de 2021.

"A partir do momento que se traz um relatório com aumento de casos de racismo, você está reconhecendo que existe  o problema, o que é uma questão sempre muito delicada. Reconhecer que existe o problema é o que sempre pensei ser a maior dificuldade para avançarmos. Quando a CBF leva para dentro da sua casa a decisão de ‘vamos mostrar que o problema existe e como ele existe’, a gente está dando um passo muito grande", disse Marcelo Carvalho, diretor executivo e fundador do Observatório da Discriminação Racial no Futebol.

Esta é a oitava edição do Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol e, pela primeira vez, a pesquisa recebeu apoio institucional da CBF, que colaborou financeira e logisticamente. A entidade irá auxiliar a realização do relatório pelos próximos quatro anos.

"O relatório anual evidencia com clareza o tamanho do problema que enfrentamos e sua publicação periódica permitirá demonstrar os resultados das nossas ações", atestou o Presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues.

Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no FutebolMarcelo Carvalho, diretor executivo e fundador do Observatório da Discriminação Racial no Futebol
Créditos: Lucas Figueiredo/CBF

Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no FutebolOnã Rudá, fundador do LGBTricolor e do Coletivo de Torcidas Canarinhos LGBTQs
Créditos: Lucas Figueiredo/CBF

Experiência internacional


Se o Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol trouxe o cenário do preconceito no Brasil, a palestra seguinte apresentou um pouco do trabalho realizado internacionalmente. Assessor de diversidade e anti-discriminação da FIFA, Pavel Klymenko falou sobre o que a entidade tem realizado para combater a discriminação de maneira global no futebol.

"A FIFA tem um sistema disciplinar para lidar com esse comportamento, incluindo uma série de sanções que variam de multas e fechamento parcial de estádios, a fechamentos completos e redução de pontos", detalhou Pavel Klymenko, que frisou a importância da Copa do Mundo de 2014 para o que se viu nesta quarta-feira na CBF:

"Fico feliz em saber que a CBF firmou uma parceria com eles (Observatório da Discriminação Racial no Futebol). É um passo muito importante para reconhecer a magnitude do problema. Coletar os incidentes ajuda a focar a atenção de toda a família do futebol no que está acontecendo, quem está sendo visado e por que isso acontece. Tenho certeza de que é um bom exemplo para outros seguirem".

Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no FutebolPavel Klymenko fez explanação sobre práticas adotadas globalmente pela FIFA
Créditos: Lucas Figueiredo/CBF

Relacionamento com os torcedores

Após um intervalo para almoço, o Seminário voltou com um debate fundamental: o Desenvolvimento da Segurança e Prevenção do Racismo e da Violências. Na primeira palestra, estiveram presentes o CEO da SD Europe e especialista em Relacionamento com as Torcidas da UEFA, Stuart Dykes, e a Líder de Desenvolvimento e Treinamento da SD Europe, Lena Wiberg. Os dois dissertaram sobre A implementação do Programa de Agentes de Relacionamento com as Torcidas na UEFA. 

ASupporters Direct Europe (SDE) é um braço institucional que liga e coordena as ações de torcidas organizadas no Velho Continente com a UEFA e as respectivas ligas. Durante a palestra, os dois explicaram a função dos Agentes de Relacionamentos com as Torcidas (SLOs), que promovem o diálogo e a integração entre fãs, clubes e federações de futebol.

"O que tentamos fazer é construir esse relacionamento com os torcedores e ser uma influência positiva. Se pudermos dar esse espaço para eles, ser uma influência positiva para eles, para que façam o que eu faço. Somos exemplos. Precisamos estar conscientes do que transmitimos. O que queremos de nosso clube? Queremos racismo, discriminação? Claro que não. Todos merecem ser acolhidos no futebol. Mas precisamos construir essa mensagem", disse Stuart Dykes.

Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no FutebolStuart Dykes, CEO da SD Europe e especialista em Relacionamento com as Torcidas da UEFA
Créditos: André Borges/CBF

Na mesma mesa, também falou o Líder de Planejamento e Operações de Segurança da FIFA, Andrey Reis. Entre os casos levantados, ele citou a capacidade que clubes têm para transformar as torcidas organizadas em aliadas na construção de uma cultura organizacional, com exemplos que vão até mesmo à exploração comercial do ambiente criado por elas.

"Situações onde a relação da torcida com o clube é tão conectada, que existem programas turísticos para trazer pessoas para acompanhar o jogo junto com as torcidas organizadas. Existe um mundo para ser trabalhado. A torcida faz parte do show. Reduzir a violência, a discriminação na torcida, faz parte dessa melhoria que vem para todos", afirmou.

Segurança nos Estádios

O último painel do Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol abordou questões de segurança nos estádios, no entorno das praças esportivas e também de coordenação com os órgãos públicos. Dentre os palestrantes estavam Alejandro Moreno, Coordenador de Segurança das Competições CONMEBOL, Rodrigo Carnevale, delegado de Polícia Federal e chefe da Interpol Brasil, e Thiago Horta Barbosa, agente da Polícia Federal e especialista do Projeto Stadia da Interpol.

"Nós temos a responsabilidade de acompanhar, regular e estar próximos dos clubes e membros afiliados, dando todo o suporte possível com as autoridades policiais. Principalmente nas partidas decisivas. Estamos aqui para oferecer e compartilhar o nosso conhecimento adquirido ao longo dos últimos anos", disse Alejandro Moreno.

A mesa ficou marcada pelo momento em que o Padre Omar Raposo, reitor do Santuário Cristo Redentor e mediador do debate, fez um anúncio importante. O Presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, foi convidado pelo Vaticano para participar de um evento com o Papa Francisco. O Cimeira Internacional: Esporte para Todos, congresso sobre inclusão social promovido pela cidade-estado, será realizado nos dias 29 e 30 de setembro deste ano.

"O convite ao presidente da CBF é o reconhecimento ao trabalho que ele vem fazendo de reconstrução da imagem da entidade, com ações como o campeonato para indígenas que será realizado na Amazônia, bem como estímulo ao combate à violência", comentou o religioso.

Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol é uma iniciativa da CBF, com apoio e parceria da FIFA, da CONMEBOL e do Observatório da Discriminação Racial no Futebol. O evento foi realizado pela primeira vez nesta quarta-feira (24), e promete ser um pontapé inicial em uma nova era de combate à discriminação no futebol brasileiro.

Clique aqui e leia tudo sobre o Seminário no site da CBF.

 

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