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terça-feira, 8 de março de 2016

Farol da Barra vira lixeira e latrina para trá, trá, trás e lepo, lepos

Liderados pelo ex-Campeão Brasileiro de Longboard Bernardo Mussi, surfistas de Salvador apresentaram, nesta semana, o resultado do movimento Fundo da Folia que faz a limpeza das praias da Barra após o Carnaval.

Por: Bernardo Mussi
Fotos: Fundo da Folia

Mais uma vez, o resultado do mergulho, após o carnaval, foi surpreendente. Foi retirado de lixo hospitalar até uma churrasqueira. O que não surpreendeu foi constatar que após tantas ações, tantas denúncias e diversas intervenções pouco incisivas do poder público, a situação vem se agravando.

É decepcionante concluir que não há sinais de conscientização, melhora na educação e nem o aumento do interesse da nossa gente pela conservação dos patrimônios ambientais, históricos e culturais desta cidade.

A percepção dos curiosos que passavam no local foi a mesma. Com indignação, baianos e turistas fizeram fotos, filmaram e nos parabenizaram pelo esforço. Até um grupo de Japoneses arregalou os olhos com a sujeira. O guia ficou envergonhado.

Um senhor visivelmente intrigado, começou a puxar conversa. Explicamos que o Fundo Da Folia é um projeto voluntário, sem vínculos comerciais, motivado pelo amor à natureza, à cidade e às pessoas que moram aqui. Falamos que além da conservação ambiental nossa intenção é divulgar, discutir o problema e propor soluções. O Parque Marinho da Barra é um exemplo.

Ele perguntou sobre conscientização. Provocamos a reflexão: Se nem o poder público tem se conscientizado dos danos provocados à cidade pelo agigantamento do Carnaval na Barra, o que se pode esperar da população? Ele coçou o queixo, e continuamos...

Conscientização rima com educação. Aliás, nossa terra há muito sofre com a pecha de abrigar um dos povos mais sem educação do país. Temos fama de barulhentos, mijões, sujões e cegos ao direito alheio. E nos parece que o poder público incentiva tais comportamentos em ações equivocadas como tem feito nos últimos carnavais.

Achamos, por exemplo, que o imoral desatino de fazer propaganda e usar a máquina pública para potencializar o aumento do consumo de bebidas alcoólicas é uma incoerência. O álcool prejudica a educação, saúde e segurança. É dever de ofício, e não opção de governo, adotar políticas contrárias ao seu consumo.

O carnaval da Barra é outra sandice. Cresceu demais e os danos que provoca já não podem ser desprezados. As súplicas dos moradores, comerciantes locais e meio ambiente são legítimas! O circuito do “glamour” não pode mais esconder a tensão entre a força do capital e a fragilidade dos patrimônios, inclusive humanos, que o mitificam.

Não é a toa que as cores do intestino deste circuito, mais uma vez, foram o laranja e o preto. Laranja do capital sem alma e preto de almas sem capital. A banalização deste cenário tem gerado uma “carnavalização cultural” com efeitos sociais preocupantes.

Nosso interlocutor interrompeu: “Agora entendo porque Salvador não trata adequadamente seus patrimônios culturais. O foco descabido em festas atrofia a importância destas riquezas tornando-as pano de fundo, latrina e lixeira para trá, trá, trás e lepo, lepos. Vira costume, vira a carnavalização cultural que vai sufocando outras perspectivas. É o caso da Barra. É o caso do Centro de Convenções, do hotel Pestana, do turismo de negócios e da Orquestra Sinfônica da Bahia que seguem agonizando.”

Continuou: “Sobre o álcool, certo que a propaganda altera o comportamento das pessoas. Tanto que já não há diversão sem cerveja em Salvador, uma falácia construída pela subserviência do mercado, meios de comunicação, políticos e governos às cervejarias. Por isso a prefeitura legitima o aumento do consumo, a densidade dos pontos de venda, a propaganda sem critério e a venda sem controle. Vai nutrindo um passivo socialmente perverso. Um dia terá que pagar a conta! ”

E arrematou: “Olhando agora este lixo submarino começo a enxergar muito além do que ele realmente aparenta. Tenho a impressão que vocês viraram a festa ao avesso mostrando um lado que ninguém quer mostrar. Há um conflito entre a Barra, seus patrimônios e o carnaval que cresceu demais. Vejo ainda cores que nunca tinha visto”.

Fizemos questão de dizer que não éramos contra o carnaval, a prefeitura nem a cerveja, mas a favor da nossa cidade. Por isso achamos que o admirável prefeito deve repensar o tipo de relação que mantém com as cervejarias e ter coragem para propor alterações profundas no carnaval da Barra diminuído os dias e atrações.

Legal deixar o circuito Sérgio Bezerra, o Furdunço e o Fuzuê por 3 dias, e criar no CAB, ou em outro local, a Cidade Do Axé para trios e camarotes. Esta medida protegerá os patrimônios da Barra, diminuirá a vergonhosa incitação ao trabalho desumano de uma cor só e dará destaque a cada circuito por suas peculiaridades.

Um Shopping a serviço do álcool. Desvio de finalidade para sobreviver à carnavalização da Barra. O Barracenter vira o Alcoolcenter...

Veio a despedida do nosso amigo: “Vou levar estas ideias ao corajoso prefeito, aos artistas que amam Salvador e aos empresários que enxergarão ótimos negócios na Cidade Do Axé. Vou à imprensa e ao Ministério Público pelas questões ambientais, do patrimônio histórico e da promiscuidade etílica que embriaga nossa cidade!”.

Instigado, fez algumas fotos e nos parabenizou. Ficou alguns segundos olhando para o mar, para o lixo e para o Farol, e seguiu andando cabisbaixo...

Logo veio o comentário de um dos nossos: “Nem para esse cara ser o prefeito, Ivete Sangalo, Ricardo Boechat, o dono de um camarote ou cervejaria disfarçado de gente normal...” E caímos na gargalhada.

Diríamos ainda àquele baiano de alma que a fragilidade megalomaníaca pela busca do “MAIOR” carnaval do mundo, em meio a tantos sacrifícios por um título de efeitos incipientes, é um equívoco. Inteligente seria usar de humilde assertividade para produzir o “Melhor” carnaval do planeta com sustentabilidade e ganhos sociais permanentes. É só colocar o interesse público, e não do público, como prioridade, e entender que Salvador é bem maior que o carnaval.

Não parece, mas a luz do Farol é infinitamente maior que o laranja da folia, e infinitamente melhor para a cidade. Há quem diga, inclusive, que sem ele o padrão de desenvolvimento desta cidade seria bem melhor. Será?

Fato é que a folia precisa ser realmente boa para a cidade. Por isso o Carnavalimpono CAB é uma opção contra o Carnavalixoda Barra. Medida urgente que sinaliza o quanto amamos Salvador. É o que pensa o Fundo Da Folia...

Para saber mais sobre o álcool  e proteção dos patrimônios culturais brasileiros:

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