Até
quem não gosta de futebol acaba envolvido em um evento que mistura esporte,
política, sentimentos à flor da pele, muita grana e ainda é capaz de
interromper o expediente nos mais diferentes cantos do planeta.
Colaboração
de texto: Rodrigo Focaccio/Produtor de conteúdo, consultor de comunicação e
empreendedor
Colaboração
de foto: Luciano Mattos Bogado/Galeria do Museu do Futebol
A
Copa do Mundo também é um termômetro das tendências esportivas, tecnológicas,
mercadológicas e reflexo das transformações do mundo. Desde 1930, data do
primeiro mundial de seleções, 20 edições aconteceram. O mundo e o futebol
mudaram muito e inovações transformaram o jogo e nossas vidas.
Entre
praticantes, adeptos, fãs e torcedores, estima-se que o futebol movimente 4
bilhões de pessoas. Mais da metade da população do planeta.
Em
2018, a grande inovação da Copa na Rússia promete ser o uso do VAR (Video
Assistant Referee) ou simplesmente o árbitro de vídeo. A promessa é, se não
solucionar por completo, ao menos reduzir os erros de marcação durante os
jogos. Embora outros esportes já usem o recurso do vídeo, a Copa do Mundo
deverá inaugurar uma nova onda para o futebol que pode atingir vários
campeonatos em todo mundo. Talvez até no Brasil.
Aqui
tem um manual se você quiser entender como será o funcionamento do VAR na Copa
A
história de inovações das Copas é longa e daria um livro. Mas separei pequenos
trechos que podem ilustrar essa evolução e dividi em três partes, cada uma
contemplando sete edições do torneio. Essa primeira vai dos Mundiais de 1930 a
1962.
1930
Bem,
foi a primeira Copa do Mundo. Uma inovação em si.
1934
Os
europeus teriam desprezado a primeira Copa do Mundo, no Uruguai, e esse foi o
primeiro torneio jogado na Europa, com sede na Itália. Foi também a primeira
competição em que houve disputa de Eliminatórias e o primeiro jogador
brasileiro campeão do mundo, só que naturalizado. Filó (Anfilógino Guarasi) era
atleta do Corinthians e foi contratado pela Lazio. Virou italiano e acabou
convocado para a seleção campeã daquele ano. Mas há um capítulo triste entre as
inovações desse ano. É possível que 1934 tenha sediado a primeira Copa do Mundo
em que politica e futebol se misturaram para fins nefastos. O ditador italiano
Benito Mussolini fez do campeonato um trampolim para propagandear a (falsa)
supremacia do fascismo e inaugurar uma prática que seria repetida de maneira
semelhante pelas Ditaduras Militares de Brasil e Argentina, em 1970 e 1978.
1938
A
primeira Copa do Mundo em que o campeão e o país-sede se classificaram
antecipadamente, regra que permaneceu inalterada até pouco tempo. Atualmente,
só o anfitrião tem vaga garantida. Ou seja, para 2018 a Rússia teve o
privilégio de não disputar as Eliminatórias europeias. Já o último campeão
deixou de ter passaporte carimbado desde 2002, quando o Brasil ganhou entrada
automática para a África do Sul em 2006. Política e futebol continuaram a andar
juntas e refletir o contexto geopolítico do mundo. A Alemanha havia anexado a
Áustria e se aproveitou de uma geração de talentos daquele país para tentar
elevar o seu nível. Só que o principal craque austríaco, Matthias Sindelar, se
recusou a jogar pelos nazistas. Foi encontrado morto um ano depois, asfixiado.
1950
Pela
primeira vez os ingleses, inventores do futebol e que, até então, esnobavam o
campeonato, jogaram uma Copa. Perderam para sua ex-colônia, os EUA, por 1 a 0.
Era também a primeira Copa do Mundo depois do intervalo da Segunda Guerra
Mundial e as seleções poderiam, quase todas, abandonar trens e navios e viajar
até o país sede de avião. Exceto a última campeã do Mundo, a Itália, que
preferiu navegar até o Brasil por conta de um gigantesco trauma. Um ano antes,
o Supercarga, avião que levava o Torino, principal time italiano da época, caiu
e matou a equipe toda, inclusive jogadores da seleção azzurra. Novos estádios
foram construídos especialmente para receber o evento. Entre eles aquele que
seria o maior estádio do mundo na época: o Maracanã. Há quem diga que nessa
Copa, o mundo passou a entender que no futebol nem sempre o melhor vence. O
Brasil era favoritíssimo ao título, mas acabou perdendo o título para o Uruguai,
de virada. Enquanto isso, nascia a TV em cores que, mais tarde traria grande
impacto também para o futebol.
1954
Dentro
de campo, sem dúvida a Hungria foi a principal inovação. Além de esquema tático
revolucionário e jogadores excepcionais, foi a
primeira seleção a realizar aquecimento antes de uma partida. O time de
Puskás era uma máquina de fazer gols, atropelou a equipe brasileira que teria
achado graça ao ver os jogadores húngaros se "desgastando" antes da
partida. A Hungria só foi parada na final porque havia uma Alemanha no seu
caminho. Era a vitória do coletivo sobre a qualidade individual. Mas, como se
sabe, não há uma equipe no mundo hoje que não se aqueça antes de a bola rolar.
A Copa do Mundo da Suíça foi também a primeira a ser transmitida pela TV,
embora só para os europeus. Pela primeira vez também a seleção brasileira usou
seu uniforme com camisas amarelas e calções azuis. Até então, o time jogava de
branco, mas o desastre na Copa anterior pedia mudanças radicais. 1954 também
seria o ano da primeira bomba de hidrogênio.
1958
Ano
em que o capitão brasileiro Bellini ergueu a taça sobre a cabeça, imortalizando
o gesto pela primeira vez. Conta-se que isso aconteceu porque um fotógrafo
pediu para que ele mostrasse o troféu. Desde então, as imagens das celebrações
das conquistas nunca mais deixaram de ter o ritual sagrado, quando se “levanta
a taça”. Na Copa disputada na Suécia, o Brasil foi o primeiro país a vencer um
Mundial fora de seu continente. Zagallo, que jogava pelo lado esquerdo do
ataque da seleção e já parecia um predestinado, voltava para fechar o meio de
campo, coisa que se tornaria comum e até obrigatória nos esquemas táticos
décadas depois. Foi também a primeira Copa em que um jovem, de apenas 17 anos
atuou como titular da seleção brasileira. Se chamava Pelé e, se por si só, já
era uma inovação da natureza, ainda teve a ousadia de fazer um golaço nas
quartas-de-final com direito a chapéu no defensor de País de Gales. O que muita
gente não sabe é que o escolhido como melhor jogador do torneio não foi Pelé
nem Garrincha, mas Didi. Um ano antes, Didi classificava o Brasil fazendo um
gol contra o Peru com seu chute eternizado como “folha seca”. A batida era
feita com o dorso do pé (esquerdo ou direito) e, talvez mesmo sem saber, usava
a força ascensional, a mesma que ajuda aviões a voar. Quando a bola caía, já
era tarde para o goleiro. Enquanto isso, os EUA lançavam seu primeiro satélite
que também teria impacto no futebol.
1962
Na
Copa disputada no Chile, Puskás e Di Stéfano, húngaro e argentino,
respectivamente atuaram pela seleção da Espanha. A partir daí surgiriam as
regras para jogadores naturalizados em seleções, mas que só seriam aplicadas em
1966 e valem até hoje. Se o jogador disputou jogos por uma seleção, não poderá
jogar por outra. Diz-se também que Di Stéfano participaria de outra polêmica.
Ao desembarcar no Chile, teria dito não ver problemas em jogadores tomarem
pílulas estimulantes, o que lançaria a discussão, pela primeira vez, do
controle antidoping. Garrincha também precisou inovar. Sem Pelé, que saiu
machucado no início da Copa, o craque precisou mais do que seus dribles pela
direita. Fez gol de falta e até de cabeça. Embora o termo não seja global, é
possível que a Copa de 62 também tenha inaugurado o “tapetão” para o mundo. Ou
pelo menos foi a primeira vez que um jogador expulso na semifinal - Garrincha -
pode jogar a partida seguinte, graças à pressão dos dirigentes brasileiros
sobre a FIFA que contavam até com uma carta de um jogador chileno, seleção da casa,
que pedia a inclusão do craque brasileiro para o bem do futebol.
(No
próximo texto, as principais inovações e mudanças que apareceram de 1966 a
1990)
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