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terça-feira, 22 de julho de 2014

Contra tudo e contra todos, Dunga está de volta

Quatro anos após ser demitido por Ricardo Teixeira do comando da seleção brasileira, o técnico Dunga está de volta. Nesta terça-feira (22), em coletiva de imprensa na sede da CBF, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, o capitão do tetra em 1994 foi apresentado como novo treinador da equipe pentacampeã.

Fonte: Globo Esporte
Foto: Rafael Ribeiro/CBF

Apesar da rejeição em algumas enquetes, Dunga mostrou-se confiante em recuperar o prestígio junto aos torcedores. "A pesquisa está aí para ser derrubada. Eu acredito muito no torcedor brasileiro, no carinho que o torcedor tem pela seleção brasileira. Como falei, não sinto essa tamanha rejeição pelo o que está se falando por onde eu passo. Toca a nós mudarmos a opinião das pessoas. Vimos que muitas enquetes que foram colocadas, as pessoas deram um jeito de mudar essas enquetes. Minha meta é mudar a maneira das pessoas pensarem a meu respeito. Nelson Mandela tinha tudo contra e conseguiu mudar a forma das pessoas de pensar com paciência. Espero que eu possa ter 1% da paciência dele. Eu não penso em mim, penso na seleção brasileira. Se a Seleção estiver bem, eu vou estar bem, estar feliz. Tem muito sacrifício, mas a alegria e satisfação é bem maior", disse o novo treinador.

O presidente José Maria Marin explicou sua escolha pelo capitão do tetra, em 1994, dizendo que a escolha foi uma unanimidade entre ele, Del Nero, Gilmar Rinaldi. "É um atleta que foi campeão do mundo, foi capitão de uma seleção campeã, demonstrou capacidade para dirigir a seleção brasileira. Ficou demonstrada através de números, não apenas por palavras, que possui todos os requisitos e capacidade para dirigir novamente a seleção brasileira. Foi uma escolha feita através da participação de todos que estão nesta mesa, numa demonstração de unidade e total integração, visando grandes conquistas no futuro. Um homem experimentado, tanto como atleta no campo, como fora dele. E todos nós nesta mesa depositamos total confiança na sua competência e capacidade de trabalho", disse Marin.

Dunga agradeceu a confiança e afirmou que não vai descartar todo o trabalho da Copa do Mundo, mas deve mudar alguns pontos. Inclusive de sua personalidade. "É uma grande felicidade. Vamos trabalhar junto com as categorias de base, com o Gallo, e a coordenação do Gilmar. A CBF está nesse planejamento há dois anos e vamos dar sequência. Não precisamos fazer dessa Copa do Mundo terra arrasada, há coisas que podem ficar. A gente viu na Copa que é importante o talento, mas o planejamento também. Como é importante o marketing, mas que o resultado dentro de campo também", acredita.

Entre outros assuntos, o treinador elogiou bastante algumas seleções da Copa do Mundo, como Alemanha, Holanda e Colômbia; quando se equivocou e falou sobre um "Jimenez" em referência clara ao apoiador James Rodríguez, anunciado nesta terça como novo jogador do Real Madrid.

Segundo Gilmar Rinaldi, o momento é de se unir em torno do novo comandante. Baseando-se em três pilares: talento, trabalho e planejamento. "Começamos agora efetivamente nosso trabalho. Começamos a conversar sobre a comissão técnica, que não será divulgada hoje. A ideia é justamente essa, voltar algumas coisas importantes em uma reformulação. Conversávamos que é muito importante que o jogador sinta frio na barriga na época de convocação, que mereça ser convocado, buscando o limite para merecer a convocação", analisou.

Imprensa

Dunga admitiu o contato difícil com a imprensa em sua primeira passagem pela Seleção. "Vimos como é importante o talento numa Copa, o planejamento. No futebol moderno, o marketing é importante, mas o trabalho dentro de campo também. Quanto a falar da minha pessoa, vocês me conhecem. Sabem que dificilmente algumas pessoas mudam, quanto à ética, trabalho e profissionalismo. Sei que tenho que melhorar muito no contato com os jornalistas. Por eu ser oriundo do futebol, na outra passagem, eu foquei mais no trabalho dentro de campo. Os resultados estão aí. Agora é normal que eu tenha que aprimorar o meu relacionamento da imprensa. É minha culpa pela relação que tivemos. Trabalhei para me aprimorar", revala.

Dunga afirmou que vai realizar um trabalho em conjunto com o coordenador das categorias de base, Alexandre Gallo, e com o coordenador de Seleções, Gilmar Rinaldi. O treinador explicou a diferença de suas passagens na Seleção. "A minha primeira passagem foi pedida para resgatar o valor da Seleção, a camisa e obter resultados. Só conseguimos isso com resultados. A segunda passagem é preparar a Seleção para a Copa de 2018. No caminho, nós vamos ter uma Copa América e vamos encontrar seleções em ótima fase. Todas as seleções melhoraram muito", concluiu.

Confira abaixo os principais trechos da coletiva de Dunga:

Volta à seleção
"O Brasil tem 200 milhões de pessoas e todos nós queremos jogar futebol. Chegar à Seleção é fantástico. E retornar à seleção é quase impossível. Como na vida não tem nada impossível. Na vida, se você fizer o seu trabalho, as pessoas vão conhecer num momento ou outro. O carinho do torcedor é o mesmo. Ele está machucado, mas a seleção significa muito para o povo brasileiro. Vamos conquistar isso através dos resultados. Vamos mostrar ao torcedor que queremos o melhor. Já temos um esboço e vocês me conhecem. Não vou vender um sonho, vou vender uma realidade. E a realidade precisa de trabalho. Não dá para criar muita expectativa no torcedor. No futebol, você precisa conquistar a torcida a cada minuto, a cada segundo. O futebol têm pessoas competentes, com muito trabalho. Já fomos os melhores e temos que resgatar essa capacidade. Temos talento para isso, mas não podemos deixar de ter a humildade de reconhecer que outras seleções fizeram um trabalho bom."

Futebol arte

"O futebol arte existe. Vai ser difícil de classificar como sempre foi. É legal, bonito, falar em futebol arte. Mas o que é arte? O goleiro fazer uma defesa é arte. O zagueiro interceptar uma bola também é. O Pelé é um mito. Não podemos achar que teremos um Pelé a cada dia. O ídolo não se cria, ele constrói isso a cada dia. O Brasil tem jogadores de grande talento, mas temos que aliar esse talento ao comprometimento, ao trabalho, ao equilíbrio emocional. O equilíbrio de mostrar as emoções no tempo certo".

Estilo de jogo

"O futebol muda a cada instante, a cada dia. Todos falam em futebol ofensivo e pensam que é colocar quatro ou cinco atacantes. As equipes marcam cinco, dez metros atrás da linha do meio de campo. Você cria espaços para atacar. Se em 2010, nós tivéssemos essa atitude, todos falariam que seria um futebol defensivista. Ele muda, mas não muda tanto. O importante é chegar com quatro, cinco jogadores à frente. Tem que ter movimentações, o time precisa se movimentar. Vai cair um ou outro conceito nosso. Aquela história de que o craque precisa participar do jogo cai por terra. O Robben participava do jogo, o Müller participava, o Rodriguez da Colômbia. Antigamente, você não via o goleiro participando tanto do jogo. Mas em 2014, nós vimos os arqueiros jogando quase como líberos".

Brasil, o melhor?

"É um trabalho de conscientização da imprensa, do torcedor. Tivemos a impressão do que é o futebol total. Não podemos passar para o torcedor que somos os melhores. Quando o adversário olha no teu olho e vê que você não quer ganhar, ele quer. Se ele vê que não quer marcar o gol, ele vai e marca. A camisa brasileira é respeitada. É verdade que eles nos respeitam, mas eles querem ganhar de nós de qualquer forma. Temos que ser mais compactos, ter mais comprometimento. Temos que ter essa percepção e não achar que vamos ganhar a Copa antes de a Copa acontecer. Não acontece nada antes de acontecer o jogo. O futebol é lindo, maravilhoso, mas antes dos 90 minutos. Depois do jogo, você precisa explicar se você ganhou ou perdeu".

Experiência x jovialidade

"Todas as coisas são importantes. Temos que obter resultado e formar uma seleção para 2018. É uma seleção jovem. A Holanda mesclou. Temos que passar para o publico os dois lados da moeda. O capitão da Alemanha, por exemplo, não vai jogar a próxima Copa. O importante é colocar no momento certo alguns jogadores novos com certa experiência. No caminho você precisa ter o resultado para fazer o trabalho com calma. Você não coloca o jogador apenas porque ele é novo, mas pela competência e pelo rendimento. Quando assumimos em 2010, você queria resgatar o carinho e o amor pela Seleção. Colocamos muitos jovens. Mas quem precisa se afirmar na Seleção são os próprios jogadores. Você não pode excluir pela idade, mas pelo rendimento em campo".

Treinos fechados/imprensa

"Isso é o futebol. É o que estamos querendo agora, sugestões como a sua, da Seleção ter um momento de privacidade para treinar algumas jogadas, treinos diferenciados. É algo que temos que fazer. Tenho que ser sincero. Não tive problema com a Globo, com A, B ou C. Tive, sim, atrito com várias pessoas. Sou gaúcho, combinado não é caro. As coisas precisam ser cumpridas. Talvez eu tenha levado muito na ponta da faca. Mas cumpri o combinado e não cumpriram comigo. Não vou mudar minha essência, que é de comprometimento, lealdade e transparência. As coisas precisam ser feitas, mas tudo conforme o planejado. Colocar no papel o espaço de cada um. Ninguém vai cercear o trabalho da imprensa, mas todos precisam entender que o objetivo maior é a Seleção. Durante a Copa, todos elogiavam que a Alemanha ia caminhar na praia. O combinado era que as entrevistas seriam depois. E ninguém ia atrás dos jogadores na caminhada.Todos precisam entender onde vai o direito e onde começa o direito dos demais. Se tiver essa compreensão de todos, vai dar certo".

Motivos do retorno

"Lógico que a escolha para voltar foi em parte pelos números da primeira passagem e também pelo conhecimento do presidente Marín pelo o que eu tinha feito entre 2006 e 2010. Parece que todo mundo descobriu a Alemanha agora, mas eles sempre foram organizados e tiveram planejamento. Sempre tiveram centros esportivos. Morei lá e vi. É um país que tem tradição de dar importância aos esportes em geral, à formação dos atletas, convivência, educação... E agora acham que eles fizeram isso nos últimos anos? Sempre foi assim. O que aconteceu foi que a Alemanha encontrou uma geração de ótimos jogadores como já teve no passado. As peças encaixaram, deram tempo ao tempo. O resultado não veio de imediato, mas deram seguimento ao trabalho. Foi campeã com amplo reconhecimento e com futebol total. Mostrou uma forma de jogar com o goleiro-líbero, que vem do futebol de salão. Mas para colocar isso em prática é preciso ter jogadores aptos para a função. O melhor jogador alemão que é o Müller vinha atrás marcar e isso não diminuiu em nada o seu talento. E para vocês verem como é importante o planejamento para o torcedor ver o bem maior. Imagina um treinador brasileiro não colocar um jogador para bater o recorde num jogo que estava 4 a 0 (estreia contra Portugal)?. Era mais importante ter o Klose descansado para um jogo mais importante do que desgasta-lo em uma partida já decidida. Isso é planejamento e isso é inteligência do futebol. Às vezes, quem está fora não consegue entender isso. Jogador precisa ter leitura de futebol. Durante a Copa, conversei com o Arrigo Sacchi e ele sempre dizia que o jogador precisa ter inteligência de jogo. Um jogador rápido da defesa não tem que apostar corrida com o atacante. Porque uma hora ele perde. Na verdade, precisa se posicionar vem e ter inteligência para ler o jogo".

Ausência do futebol desde 2010

"Não é que seja uma desilusão. Nós como ser humanos temos uma reação, um pensamento. Cada um tem uma forma de ser, um caráter, um tipo de família e essa ansiedade te deixar perplexo. Fui ao Internacional e achava que tinha de ter dado seguimento ao trabalho. Fomos campeões gaúchos e sai com o time em 5º lugar no Brasileirão. Como o meu trabalho é baseado em respeito, nas pessoas, respeitando o coletivo, nunca tive problema de relacionamento por mais que as pessoas falem. Estive na Seleção e também nunca tive problema com jogadores ou membros da comissão técnica. Agora, eu não sou de estar querendo colocar no jornal que fizeram contato comigo. Tive ofertas recentemente, mas para o torcedor entender, o que adianta eu passar que tive dez propostas e não aceitei nenhuma? Vão falar que todo mundo quer o Dunga e ele não acerta com ninguém, que quer se valorizar... Por isso fiquei quieto. Na hora que eu achar que devo tomar uma decisão, eu tomo. Fiz muitas viagens, falei com muitas pessoas que trabalham no futebol, não só no Brasil, mas fora do país também. Esse período da Copa, nas refeições, nos jogos, fazíamos reuniões mais tranquilas com Sacchi, Gullit, Bakero, falávamos das situações novas do futebol. Quais eram as virtudes, os defeitos das seleções. A única equipe que jogou ofensivamente neste Mundial foi o Chile. Eram três atacantes e marcação sob pressão. As demais equipes todos jogavam atrás, fechadinhos, buscando o contra-ataque. Todo o treinador começa organizando a parte defensiva para depois pensar na parte ofensiva. Ficar me vangloriando que fiz cursos não serve de nada. O que serve é colocar as ideias em prática. O bom treinador tem que tirar o melhor de cada jogador para o coletivo. Não adianta saber muito e não conseguir transmitir para cada um o seu melhor".


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